A presença do Outro nas nossas ausências: o que é aquilo em que também não Sou? Um diálogo sobre o espelho espedaçado!
Por Gilvaldo Quinzeiro
Imagine um “apaixonado” casal de namorados, depois de uma
longa semana, encontrando-se num final
de tarde: que lindo! Ela a mais bonita do bairro; ele, disputadíssimo entre
todas as “minas”.
O encontro: “oi”! – cumprimenta ele. – “Oi”! Responde
ela.
E, segue num
diálogo quase monossílabo. Um de frente para o outro, claro, como nos velhos tempos. Todavia,
ambos com a cara presa ao celular cujos dedos ágeis são substitutos dos olhos,
da boca e outros que tais.
Que tempo é este?
O de agora!
Pois bem, estamos diante de uma situação mais do que
complexa que eu chamaria de “deslocamento objetal” ou o objeto poroso – aquele que
mais se assemelha a uma peneira: tudo é esburacado!
Mas, voltando ao casal de namorados. Quem afinal está “realmente”
em cena: as duas pessoas de frente a frente – ou aquelas “imaginárias” cujas
caras estão voltadas para o celular? Ora, isso para Lacan seria óbvio e indiscutível,
uma vez que para este, nunca falamos com o sujeito real, mas com o que imaginamos.
Loucura, não? Realidade!
Deste modo, isso nos faz a pensar nas “ausências”. Tal
como aquela que levou Príncipe Siegfried
do
“Lago do Cisne” a jogar-se literalmente de corpo e alma em busca da sua “outra
face”. Mas a questão aqui é mais complexa, pois, lá tem ao menos quem sai ao
encontro de outrem, o príncipe, no caso,
mas, quanto aqui – quem de dentro de nós
está a procurar – e o quê e a quem?
Em outras palavras, o sujeito está puído, logo, é pó com
o qual não se pode edificar o Outro – a menos que este Outro seja apenas a
nossa argila seca, e, portanto, algo em que nós não nos vemos.
E voltando, a
Lacan. Trata-se aqui do “espelho espedaçado”? Eu nem entortaria a cara dizendo:
afirmativamente! Dizer sobre “espelho espedaçado” é se referir ao corpo como um
cão sem dono, ou o cão para o qual a
visão do “osso”, já não mais lhe desperta “saliva” alguma!
Quanto ao aparelho de celular, hoje, tão “necessário”
quanto a nossa própria mão, já disse aqui reiteradas vezes, no que diz
respeito ao seu uso, é em certo sentido, o substituto da nossa
masturbação. Então, caros colegas,
aquilo que balança do outro lado da rua pode ser o nosso corpo atuando em outra
realidade que não esta em que nos divertimos “virtualmente”!
Beijos?
Comentários
Postar um comentário