O cão, a linguiça e o homem: tudo amarrado pela palavra?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Amarrar cachorro com linguiça – e com a palavra - pode? Freud cansou de nos falar sobre “ a cura
com a palavra”. Mas a de quem? A do analista ou a do próprio paciente? Eis a
questão!
A propósito de “amarrar cachorro com linguiça”, nos soa a
principio como impossível. De veras! Mas, quanto se amarrar com a palavra? Ora,
afinal para que nos serve a palavra, senão para os amarradios!
Linguiça e palavra são feitos dos mesmos ingredientes, a
saber, os significantes. Graças a isso, o homem e o cão se tornaram “amigos”. Porém, se na falta
das palavras, só sobrar à linguiça, então, é claro que tudo que antes estava “amarrado”, agora se desatará. E
aquilo que o cão lambe quando ver o outro, para o homem faria a diferença?
Freud tinha razão sobre a cura com a palavra. Isso
significa dizer, porém, que também as doenças são feitas de palavras, as
podres, principalmente. Quanto às engolem sem ao menos fechar a boca?
Ora, a escuta dos
sintomas, e não das doenças em si, é a decifração de um hieróglifo! Portanto,
quando o cão, a linguiça e o homem aparecerem juntos na mesma cena, aquilo que
de longe balança nem sempre é o rabo!...
Mas já pensou, se o cão, na falta da palavra, resolvesse
também amarrar o homem com a linguiça!
Ai sim, Freud não só estaria equivocado, como a cura seria apenas “o osso duro
de roer”!
Afinal, depois de tudo o que se pretendeu especular aqui,
em quem, caro leitor, você amarra suas palavras?
Não esqueça, porém, que tanto a cura e a doença nos
chegam soprados pelo vento das palavras. A linguiça também, dependendo do seu
estado, pode nos ser ambivalente. Claro
que você pode até ter realmente pensado naquela da qual o cão não se livra,
então, é aqui que a palavra de Freud amarra a todos nós!
E assim sendo, viva quem?
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