O gozo afetado pelos novos afetos
Por Gilvaldo
Quinzeiro
Tudo novo. Enferrujado só os meios pelos quais se
realizam os desejos. Eis uma escrita acerca dos troncos e raízes das nossas
angústias. Uma reflexão psicanalítica, portanto, a respeito do “gozo”.
Quem em mim “goza”, enquanto o que me penetra é apenas o
olho do Outro castigado pelas minhas ausências? O que é a genitália na mão agora tão ocupada de outras coisas? Com que gozamos se o que nos
abunda é a ansiedade?
O “gozo”, portanto,
está ao alcance das nossas mãos! Porém, o preço a ser pago por ele é caro
demais. O ato de se masturbar, por exemplo, não só saiu das alcovas de antes, e se faz
presente em qualquer lugar, posto que, a antiga genitália sofreu um
deslocamento para os novos objetos criados com o objetivo de, também substituir o antigo gozo. A consequência
disso, não poderia ser imediatamente outra: perdemos a noção do próprio corpo!
Ora, o corpo é o arquétipo de qualquer ideia de gozo. Sem
ele, perdemos também a noção de dor. Ou seja, tudo se tornou “o lá fora”. Nada
se passa como sendo “comigo mesmo”. Gozar assim nem virtualmente!
Freud como nenhum outro homem, está tão vivo nos tempos
de hoje. É ainda dele, o dedo que nos
aponta a cara! Porém, nós não somos em nada diferentes dos homens do tempo de Freud, isto
é, temos também a pressa de sacrifica-lo ainda vivo!
A propósito, diz a mitologia cabocla que,
quando Deus estava colocando o sexo nas suas criaturas; em todos, ele o colocou
de mansinho com a mão, exceto o do porco, que se desgrudou, de modo que, num
ímpeto, o criador o atirou (o sexo), como se diz, “de rebolada”, e por pouco
não perdeu o alvo. Razão pelo qual o testículo do porco é colado lá em cima, ao
invés, de lá embaixo como os outros animais. A questão de agora é: que
“Deus” estará por trás das coisas pelas quais substituímos não só a nossa genitália, como também o nosso
gozo?
Na Inglaterra, por exemplo, uma pesquisa
revela que as mulheres preferem chocolate a
sexo. Ora, qual o problema? Nenhum. E nem me passa pela cabeça
questionar quem optou por tal decisão. A
minha intenção aqui, entretanto, é apenas chamar atenção para as coisas pelas
quais substituímos o nosso gozo.
O consumismo. Eis o que nos é dado desde
criança como “seios”. Dai a dor e o luto
pela perda de um simples aparelho de celular. Os jovens nunca se tornaram precocemente tão “velhos”
e “viúvos” por tantas perdas, como os jovens do tempo de hoje. Para as indústrias farmacêuticas não poderia
ter uma noticia melhor, pois, quanto mais remédio para a ansiedade, menos se
cura o nosso já doentio estilo de vida.
Portanto, neste mundo onde ostentação ganha um outro corpo, amputar os dedos apenas para ostentar um anel é o “gozar”
que ainda nos resta!
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