O sofrimento acabou! Agora é “sofrência”?
Por Gilvaldo Quinzeiro
A palavra é substituta da “coisa” naquilo em que a
coisa não está ao alcance da “mão”. A
dor, conquanto, sob efeito da mão permanece
para além desta - dilaceradora – é o que
se chama de sofrimento! Quem nunca sofreu? Por amor então, “quem atira a primeira pedra”?
Dois homens. Cada um, em seu tempo e espaço, usaram a mão sobre a “coisa” presente em seus sofrimentos como ferramenta de criação. De que
homens eu estou falando? Acertou quem respondeu: Sigmund Freud e Lupicínio
Rodrigues.
Do primeiro, digo
de Freud, não se têm palavras para
quantificar a sua contribuição no tocante ao esforço de compreender e aliviar a
dor da alma humana. Do segundo, digo, Lupicínio, todas
as palavras são suas no esforço de dá nomes ao “amor” de sofrer por amor” – a dor-de-cotovelo! O que ambos têm em comum?
O uso da palavra. Com Freud a cura pela palavra. Com Lupicínio, a palavra cantada
para diminui o sofrer?
Parece pouco? Então se coloque no lugar deles!
Hoje, por milagre,
algum gênio criador nos coloca na boca uma nova e poderosa palavra: “sofrência”. O
que ela significa? A quem ela se destina? Quem com ela se identifica? Que alivio ela nos traz? O “sofrimento” enfim acabou?
Que nos venha a “sofrência”!
Mas antes, algumas considerações merecem ser feitas...
Pois bem, este
termo “sofrência” soa como algo que contrasta com outro. Talvez com a dor-de-cotovelo
tão bem sentida e cantada por Lupicínio
Rodrigues – era esta a sua fonte de inspiração. Que inspiração!
Hoje, no entanto,
tudo é marcado pela pressa. Se antes se levava um tempo para se iniciar,
por exemplo, um namoro, hoje, então como
se diz na nova gíria de amor é “derrubando e comendo logo”!
Que alívio? Alívio de quê?
“Derrubando e comendo logo”! De fato, as coisas nos tempos de hoje parecem
tão apressadas para acontecerem assim.
No campo do relacionamento, então nem se fala... Deixar para “comer” amanhã é desperdiçar
o que desde ontem já está no prato.
Mas a questão a ser colocada é: esta pressa que a tudo dilui
também dilui o nosso sofrer? Quem sofre hoje em dia é aquele que por algum
motivo não se “apressou”? É seguindo os “atalhos” que se evita o sofrer?
Por fim, olha "seus moços”, sejam
por quais nomes forem, mas o velho sofrimento nunca fez tantas novas vítimas, conquanto, a pressa destas com
a navalha em suas mãos!...
Sem nenhuma pressa, bom dia!
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