4.0

Gilvaldo Quinzeiro



Enfim, compreendi aos quarenta e poucos anos, que a “poesia do primeiro beijo”, poderia ter sido um épico, se também tivesse sido escrito com as mãos... Sim!... Com o corpo todo!...

È que naqueles tempos “grávidos do meu próprio desejo”, não saberia compreender por que as uvas entre os lábios são também comidas com o mesmo “desejo” com que se devora as outras partes nuas da pele...

Mas, todos os poemas escritos a lápis ou a caneta nos bons tempos de escolas sobre as carteiras ou nas paredes do banheiro, eram na verdade um “pedaço do meu próprio corpo” que sai de mim!...

Hoje, graças a Freud me vir no espelho de Lacan: quem de novo se apaixonaria por mim? Paradoxo: nos tempos das espinhas do rosto eu também me achava bonito e por que não hoje?

Dito de outra forma, a “paixão do outro por mim”, há de nascer antes na semente plantada no meu amor próprio, sem este, ainda estaria preso à enchente do primeiro beijo.

E assim, as flores, o gole de vinho, as mãos que faz do corpo um piano que arranca dos sussurros as melodias obscenas, enquanto lá no alto a lua hoje pisada por gente, são sim poesias!... Quiçá as que nos fizeram falta na falta de fôlego do “primeiro beijo”!...

Coincidência ou não, quando ainda rabiscava os primeiros poemas alguns feitos em papelão, já possuía o desejo de desejar o que se deseja com a pele como também o de escrever dentro do que era o “padrão ortográfico” da época, com medo de ser preterido pela “mina” e, agora, quarenta e poucos anos depois, sinto que estou confundido entre uma linha e outra ferindo a nova ortografia vigente. O velho X o novo! De novo?

“A escrita do beijo,” antecede a escrita que borra a folha de papel, pena que no tempo que se escrevia com a pena, o beijo se restringia aos lábios e não se sentia o gosto de batom, que também pode ter sabor de uva!

Mas, como diria Belchior “deixando a profundidade de lado eu quero é ficar colado o corpo dela noite e dia” (...) então poesia do primeiro beijo possa ser psicanaliticamente entendida na gloria de se chegar aos quarentas fazendo canções de amor ou cantando as emoções dos cinquenta anos do Rei Roberto!

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