NAS VÍCERAS DO MEDO



                                                                  Gilvaldo Quinzeiro

Num mundo com seu “final” marcado, onde os mais convictos ou apressados já se antecipam a ele, entrar nas vísceras do medo que nos faz todos reféns significa colocar a engrenagem da “roda da existência humana” para girar, não obstante o toque das sinfonias fúnebres a se propagar.

Pois, bem, no tempo em que as crianças brincavam de roda no meio do terreiro e os rapazes e moças “passavam fogo” ante a fogueira de São João, o único medo que castigava a todos, era o de se deparar com o lobisomem nas noites de quinta-feira. Tal era o medo que até se ouvir falar do bicho se perdia o fôlego. Paradoxalmente, a maioria das casas nesta época, nem se compara com as de hoje no que se refere ao quesito segurança. Na zona rural, por exemplo, a maioria das casas eram coberta de palha de babaçu, bem como as paredes, e pasmem, até mesmo a porta era uma esteira (também de palha), cuja tranca era uma simples imbira de tucum amarrada. E o lobisomem? - Por incrível que pareça este nunca conseguia romper com a “segurança”!

Por outro lado, no duelo com o lobisomem, a arma mortal não era de fogo, punhal ou a espada, mas, uma tira de couro amarrada na extremidade de um cacete – chamado de sim-quero-a-dor. Moral da história, o medo era compatível às armas disponíveis!

Hoje, no entanto, qual o medo a nos tirar o fôlego? O medo “fabricado” é compatível a quais armas? Quem de fato possui as armas para o medo enfrentar? Quem “fabrica” o medo do qual todos somos reféns?

O fato é que nem as crianças brincam mais de roda e nem os rapazes e moças “passam fogo”, coincidentemente foi-se o tempo em que o lobisomem assombrava a todo. Hoje, no entanto, a roda que mais cresce é aquela dos que mascam chiclete para devorar entre os dentes os “fantasmas” que já não encontram nenhuma porta a rombar!

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