O EGO, O FANTASMA E A MORTE




Gilvaldo Quinzeiro


1 – O que ora ouso escrever o faço também (des) escrevendo tal como o fugitivo que (des) faz o próprio rastro. Digo isso não para escapar do objetivo traçado, mas por me desejar a “perdição” dos (des) caminhos que o tema ora em questão me coloca, isto é, do não-retorno e o do não-saber por onde começar.

2 – E assim, na trilha tortuosa da vida: com quantos fantasmas o sujeito se permite ser por eles devorados? Quais dos fantasmas que me invadem mundo adentro eu sou? Sou todos os fantasmas de mim? Os mesmos fantasmas que de mim se alimentam não são por mim também alimentados

3 - Para adentrar a este mundo obscuro, onde só os (des) humanos do porte de Sigmund Freud arriscaram a penetrar, vou me valer dos “gritos por socorros” daqueles que se esvaem em fantasmas, a saber, a criança e o adolescente. Daqui pra frente escreverei ouvindo as “vozes dos meus fantasmas” colhidos em mim na dimensão do Outro que me fez ouvir, seja na clinica, seja no dia-a-dia da sala de aula - espaço este onde ou se devora o “bicho” ou pelo “bicho” se é devorado.

4 - Para me afundar neste caminho citarei um dentre inúmeros casos que ocorre no dia a dia da sala de aula -, uma aluna que após eu explicar os procedimentos para que a turma fizesse um trabalho em grupo, encontrava-se “soluçando e com os olhos lagrimejados”. Indagada por mim a respeito do que com ela se passava, respondeu: “que estava vendo na parede uma imagem de uma pessoa”. Aproximei-me dela e perguntei como era esta imagem? Respondeu-me ela: uma moça de rosto pálido e de olhos repuxados. Um pouco mais calma ela me fez um comentário de que estava tomando medicamento para combater uma anemia.

5 - O que este caso nos revela? Estamos nós na trilha dos fantasmas? Eis o fantasma que somos ou o fantasma que de nós escapa?

6 – Uma reflexão: O “comigo mesmo” pode não ser compreendido como sendo comigo, pois o outro que me ocupa os espaços vazios há de sentir por mim, sob pena de que tudo em mim não me é pertinente, nem o “comigo mesmo”. Dito de outra forma, os fantasmas são como abutres que alimentamos todos os dias com as outras partes de nós, que não conseguimos ser, e não as somos porque são fantasmas que escapam de nós para do lado de fora a nos pedir ajuda(?)

7 – Portanto, o que precede a “desintegração do ego” é este se tornar fantasma de si mesmo para sobreviver a “morte” da qual em vão se defende. Ou seja, os fantasmas quando de nós escapam é porque se antecipam a “morte” que não quer morrer. Assim sendo, o ego quando não abrigado no corpo para deste ser “ego”, evade-se para ao corpo retornar, mas desta feita na condição de fantasma. Conclui-se pois, que somos todos fantasmas por antecipação a “morte”.





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